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O que a ciência está finalmente a confirmar: A sabedoria das nossas avós e o poder da epigenética



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O post de hoje é uma reflexão — sobre as minhas raízes e sobre o que sei enquanto cientista.

A verdade é que quanto mais aprofundo o meu conhecimento em genética, mais respeito desenvolvo pelas práticas, saberes e gestos que foram passados de geração em geração na minha família — e em tantas outras.

Hoje, a ciência chama-lhe epigenética. Mas as nossas avós já sabiam.

Sabiam que como vivemos hoje molda o amanhã. Sabiam cuidar antes de saber explicar. E isso merece ser reconhecido, celebrado e compreendido — com o coração… e com dados.


🧬 O que é epigenética — e porque importa?

Epigenética é o estudo de como o nosso ambiente e o nosso estilo de vida podem influenciar a forma como os nossos genes se expressam — sem alterar o código genético em si.

Ou seja: o nosso ADN é o plano. Mas o estilo de vida é quem escolhe que parte do plano se ativa.

Fatores como alimentação, stress, sono, relações, contacto com a natureza e até o toque afetivo influenciam diretamente a expressão génica. Este fenómeno acontece através de mecanismos como a metilação do ADN, que funciona como um interruptor biológico, ativando ou silenciando determinados genes.


A sabedoria prática das nossas avós


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Sempre fui muito curiosa. Lembro-me de estar sempre a perguntar à minha mãe, às minhas tias e às avós o porquê de cada chá, de cada erva, de cada bálsamo natural ou banho de ervas. Na altura, achava que era apenas tradição ou porque “no tempo delas não havia melhor”.

Mas hoje sei que muito do que elas faziam era, na verdade, uma forma de inteligência prática e corporal.

  • Sabiam tratar inflamações com folhas.

  • Acalmar cólicas com infusões.

  • Equilibrar o corpo com aquilo que a terra oferecia.

  • Cozinhavam com ingredientes vivos.

  • Respeitavam o seu ciclo.

  • Cuidavam da gravidez com intenção.

  • Tocavam a terra.

  • Sabiam parar — e sabiam observar.


Não usavam termos como “microbiota” ou “resiliência hormonal”, mas viviam com essa consciência. Hoje, muito do que chamamos de biohacking ou medicina integrativa já fazia parte da prática diária dessas mulheres — que nos passaram conhecimento através de rituais, receitas e gestos repetidos com intenção.


Quando a ciência confirma o que já se sabia:

🍵 Plantas como adaptógenos naturais

Elas: usavam folhas, raízes e sementes em chás para aumentar energia, resistência ou lidar com stress (como folhas de moringa ou raízes de gengibre).


A ciência: muitas destas plantas são adaptógenos, ou seja, ajudam o corpo a equilibrar o stress físico e emocional, e a regular o sistema endócrino.


🥬 Comer alimentos ricos em ferro e folato durante a gravidez

Elas: recomendavam alimentos como folhas verdes, feijão, sementes e abóbora para grávidas.


A ciência: o ferro e o ácido fólico são cruciais para o desenvolvimento saudável do bebé, especialmente na formação do tubo neural.


🥤 Fermentação tradicional: kissangua e bebidas vivas

Elas: preparavam kissangua (milho fermentado), garapa e outras bebidas naturais como fontes de força e frescura.


A ciência: bebidas fermentadas tradicionais são ricas em probióticos, que beneficiam a microbiota intestinal — essencial para a digestão, imunidade e até saúde mental.


🔗 Tradição vs Ciência: precisamos escolher?

É por isso que, para mim, a verdadeira revolução está em não escolher entre tradição ou ciência. O caminho está na integração.

Como geneticista, acredito profundamente no poder dos dados. Mas também aprendi que há sabedorias que os dados ainda não conseguiram traduzir — e que mesmo assim funcionam, geração após geração.

A ciência guia a minha mente.Mas são as minhas raízes que dão direção ao meu coração.Viver com intenção é honrar as duas.

👣 As nossas escolhas moldam o futuro

Estudos em epigenética já mostraram que as experiências de vida podem afetar não só os nossos próprios genes, mas também os dos nossos filhos e netos.

O que comemos, o stress que vivemos, a forma como dormimos ou nos movemos — tudo pode influenciar a expressão génica das próximas gerações.


Acredito que estamos num momento bonito: um momento em que a ciência valida, com provas, aquilo que já vivíamos há muito.

Honrar as nossas raízes não é regredir — é reconhecer a base de onde viemos e usá-la como alicerce para evoluir.

Viver com intenção, para mim, é isso: usar o que a ciência nos dá, sem esquecer o que as nossas avós já sabiam.



Referências

  • Crews D, Gillette R, Scarpino SV, Manikkam M, Savenkova MI, Skinner MK. Epigenetic transgenerational inheritance of altered stress responses. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Jun 5;109(23):9143-8. doi: 10.1073/pnas.1118514109. Epub 2012 May 21. PMID: 22615374; PMCID: PMC3384163.

  • Hamilton JP. Epigenetics: principles and practice. Dig Dis. 2011;29(2):130-5. doi: 10.1159/000323874. Epub 2011 Jul 5. PMID: 21734376; PMCID: PMC3134032.

  • Marco ML, et al. (2017). Health benefits of fermented foods: microbiota and beyond. Current Opinion in Biotechnology.

  • Mazzocchi F. Western science and traditional knowledge. Despite their variations, different forms of knowledge can learn from each other. EMBO Rep. 2006 May;7(5):463-6. doi: 10.1038/sj.embor.7400693. PMID: 16670675; PMCID: PMC1479546.

  • Panossian A, Wikman G. (2010). Effects of adaptogens on the central nervous system and the molecular mechanisms associated with their stress—protective activity. Pharmaceuticals.

  • Skinner MK. Environmental stress and epigenetic transgenerational inheritance. BMC Med. 2014 Sep 5;12:153. doi: 10.1186/s12916-014-0153-y. PMID: 25259699; PMCID: PMC4244059.

  • World Health Organization (WHO). Guideline: Daily iron and folic acid supplementation in pregnant women.


 
 
 

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